Histórico
20 ANDANÇAS!
Em 2015 celebramos o 20º Andanças! 20 edições de Andanças a querer pôr Portugal a dançar! 20 anos de encontros e partilhas entre o tradicional e o contemporâneo. Vem celebrar connosco e mergulhar nesta albufeira humana de experiências e de história Andanças: dançar ritmos do mundo • ouvir música ao vivo no meio da natureza • tocar um instrumento • assistir a concertos • aprender a dançar • participar em oficinas • pintar com as crianças • dar um passeio temático • fruir arte na paisagem • partilhar ideias • fazer novas amizades • saborear a gastronomia local • viver momentos em família • visitar a região • relaxar e fazer uma sesta à sombra das árvores • dar um mergulho nas águas da barragem • estar em comunidade • ser mudança para a sustentabilidade • celebrar a vida.
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Na celebração dos 20 Andanças estamos a construir um arquivo com registos das edições anteriores. Queremos que seja colaborativo e integre os testemunhos das pessoas que foram passando pelo Andanças ao longo destes anos. Participe e ajude-nos a reconstruir as histórias do Andanças!
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Andanças 1996 — O primeiro Andanças
Paulo Pereira acabado de regressar de Barcelona, onde estudou ao abrigo do programa Erasmus, partilha as experiências que viveu com os seus amigos, entre os quais se encontram Diana Mira e João Pires.
Há uma história por trás, que é o facto do Paulo ter ido para Barcelona, fazer o Erasmus, e ter tido contacto com esta realidade das danças tradicionais e quando voltou para Portugal, começou a chatear os amigos e os amigos, entretanto, começaram a achar piada também, a dançar e a achar piada a estas coisas...
Em Barcelona, assim como em outras regiões europeiras assistia-se ao renascimento da música tradicional, através da integração da música, da dança tradicional e da arte de construir instrumentos num movimento abrangente e popular.
A descoberta da música tradicional marcou Paulo de tal forma, que juntamente com um grupo de amigos formou o grupo de baile Bailia, que tocava músicas tradicionais europeias, como por exemplo a mazurca.
Mas só isso não chegava para Paulo, que conseguiu convencer os amigos a viajarem com ele até França, onde participaram num festival de dança.
...e alguns de nós fomos a um festival que havia em França e começámos a entusiasmar-nos, tal como todas as outras pessoas e de repente surgiu a ideia de fazer uma coisa maior em Portugal.
A viagem influenciou de tal forma o grupo de amigos, que decidiu criar um festival do género aqui em Portugal, com o objectivo de divulgar a dança como parte integrante da tradição musical de diferentes países, europeus e não europeus e de despertar o interesse para as danças tradicionais portuguesas, tornando-as acessíveis ao público em geral.
Foi basicamente por uma questão egoísta, de querer ter um espaço com grupos de música e com mais pessoas para partilhar este gosto que tínhamos pela dança. Basicamente foi isto, a decisão é esta, egoísta.
E assim nasceu a 1ª edição do Festival Internacional de Danças Populares que teve lugar em 1996, de 1 a 3 de Novembro em Évora e contou com a participação de 3 grupos de baile, a actuação de 3 grupos de dança tradicional e a realização de 6 ateliers de dança: portuguesa, africana, europeia do século XVII, galega, nórdica e salsa, com a duração de 2 horas cada.
Paulo Pereira criou também um espaço de intercâmbio musical onde a participação estava aberta a qualquer músico interessado.
A afluência de público superou todas as expectativas, para surpresa dos jovens organizadores, dando mote à continuidade do festival.
O impacto foi brutal... mas a minha grande estupefacção é, de onde é que apareceram aquelas 400 ou 500 ou 600 pessoas no primeiro festival, na primeira edição, já não me lembro dos números. Eram muitas, muitas para as condições em que foi divulgado, com pessoas completamente inexperientes a organizar, pessoas sem contactos no meio da dança, no meio da música alguns, mas não era por aí, ou seja, é estranhíssimo como é que apareceu tanta, pouquíssima gente para os números que o festival tem hoje, mas tanta gente para as expectativas de quem organizava.

Quem organiza estas coisas sabe que há sempre algum receio de que as coisas corram mal e nomeadamente quando é a primeira edição que tens, com alguns apoios importantes, com o nosso dinheiro envolvido na organização, foi mesmo um tiro no escuro, organizado por pessoas sem experiência, com muita força de vontade, com muita capacidade e quando vimos concretizado o festival com um número bastante aceitável de pessoas sentimos um orgulho muito grande.
- João Pires
Andanças 1997 e 1998 - Fraguinha, Serra da Gralheira
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Em 1997 conheci uma pessoa, que era o Paulo Pereira, que me falou de ter feito uma experiência, no ano anterior, dentro de um teatro em Évora e que era uma espécie de, uma brincadeira,  mas que punha toda a gente a dançar. Já havia uma banda que tocava coisas tradicionais e que toda a gente dançava e que era um movimento que se passava na Europa. Ele precisava de encontrar um sítio. Fomos ambos procurar o sítio e encontrámos. Fizemos a inauguração do Parque da Fraguinha, no cimo da serra de Freita e Arada. E foi impressionante, de uma coisa pequenininha que se tinha passado em Évora, e num período do ano aparentemente muito frio, três dias em Outubro, estava repleto de gente e correu muito bem. Veio gente de todo o lado e percebeu-se que dificilmente iríamos conseguir manter o festival naquele sítio durante muito tempo. Já agora, foi nesse ano que recebeu o nome de Andanças. Ana Martins

O nome do festival deriva de ter sido pensado inicialmente como um festival que ia saltar de lugar, um festival andante, junto com o trocadilho das danças. Se não me engano, foi o Balas que teve a ideia do nome, mas o conceito era este, um festival de dança, mas que todos os anos mudava de sítio. Relativamente à ideia inicial de ser andante morreu logo no segundo ano, porque apaixonámo-nos por aquele sítio, a ideia de querer mudar morreu logo ali. João Pires

Quanto ao Andanças, o primeiro contacto que tive foi quando a Ana Martins, durante a feira de Lafões em 97, falou-me na possibilidade de se fazer um festival que já tinha tido uma primeira versão em Évora e que precisava de um espaço maior. Sugeri que o parque de campismo da Fraguinha, que estava em fase de conclusão, seria um espaço interessante. Esse parque da Fraguinha foi constituído pela Cooperativa Mais Além, com mais 40 sócios individuais, que criaram um espaço natural. Como tinha algum conhecimento com as câmaras da região, foi fácil à cooperativa envolver essas câmaras, de tal modo que participaram 7 municípios, uma vez que achavam a ideia do Andanças, de ligar a cultura à natureza, muito interessante. As câmaras envolveram-se facilmente e tornou-se relativamente fácil montar o Andanças, já que foi com a colaboração dos vários municípios. Padre João Rodrigues
Lembro-me do João Pires dar-me um flyer, uma fotocópia, e dizer-me que tinha de ir ao Andanças, em São Pedro do Sul, na Fraguinha, uma aldeia no cimo da serra. Ganhei coragem, guardei religiosamente esse flyer até aos dias de hoje, e decidi ir à hippie, de mochila às costas, com a tenda de campismo e lá vou eu por aí acima, desde Almada até São Pedro do Sul. Apanhei um comboio, um autocarro, já não me recordo bem e depois apanhei uma boleia de uma espécie de tractor e lá cheguei ao sítio. E havia lá duas tendas, uma coisa tipo taberna, umas mesas onde a malta comia e integrei-me muito bem. Adorei logo todos os concertos e os workshops, durante o dia, das danças tradicionais. Fiz tudo, as mazurcas e as danças que haviam lá na altura e apaixonei-me completamente pelo Andanças. E ainda hoje, já vai fazer 20 anos e ainda hoje em dia continuo a ir religiosamente à Meca, que é o Andanças. Hugo Osga

Havia um laguito na Fraguinha, onde o pessoal tomava banho, era pouca gente, havia 3, 4 palcos, se tanto. Mas aquilo era um ambiente engraçado. Lembro-me do Paulo Meirinho e da Mercedes fazerem uma alvorada com a gaita e a pandeireta, e isso se acontecesse hoje em dia, traria problemas. Winga Kan

O Andanças foi durante muitos anos uma forma de estar na vida. Toda a minha vida girava em torno do Andanças. O espírito de cooperação, de paz, a transmissão de valores, o cuidar do património imaterial. É como um filho que cresce e tem uma personalidade diferente da nossa, mas que nos marca muito. Agora que penso naquelas aulas, sente-se uma energia muito positiva, que talvez esteja relacionada com as diferentes culturas que ali se juntam e isso torna-nos mais tolerantes, ajuda-nos a compreender melhor os outros, sempre através da dança e não através de livros ou de grandes conversas. Mercedes Prieto

Não me lembro o ano, mas fui a primeira vez e nunca mais deixei de ir, foi no camping da Fraguinha. Tive a impressão de estar participando em algo com uma componente familiar muito forte. Todos estavam, simplesmente, entregues aos sons e às expressividades corporais, sem que alguém estivesse com problemas em ser observado ou fazer show. Era visível o entusiasmo de todos os participantes. Umoi

Fizemos um outro ano ali, em 98 e rebentou pelas costuras, não tinha as mínimas condições para aguentar, quer ao nível das infraestruturas, quer ao nível dos transportes. Acima de tudo não havia energia suficiente e não cabiam as pessoas todas. O Andanças cresceu imenso de um ano para o outro. Ana Martins

Mas depois foi por uma questão logística que saiu da Fraguinha. Uma história rocambolesca: entre terem mudado de donos, a gestão do sítio, que era um parque de campismo no topo da serra e o aumento logístico que implicava a perspectiva de aumento de participantes, que veio de facto a concretizar-se. João Pires 
Andanças 1999 — Carvalhais, São Pedro do Sul
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De 23 a 29 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul
Na altura eu era Presidente da Junta de Freguesia de Carvalhais e já tinha conhecimento do Andanças há 2 anos, porque decorria na serra da Arada, no Lugar da Fraguinha, onde no primeiro ano teve 200 pessoas, no segundo já teve umas 400 ou 500 e no terceiro ano a organização tinha contactado a Câmara para o festival ser transferido para Manhouce por questões logísticas. Isso não foi possível, por diversos motivos e entretanto eles andavam a circular por Carvalhais, à procura de uma outra alternativa quando faltava cerca de mês e meio para o início do festival. Tivemos uma reunião, onde falámos das necessidades do festival, tendo em atenção que ia crescer, já havia essa perspectiva, o que era necessário em termos de espaço, em termos de equipamento, etc, e encontrámos um local que seria o ideal para o festival. O único problema é que esse local pertencia, praticamente todo, à Fábrica da Igreja de Carvalhais. Era preciso falar com o padre José Rodrigues de Barros, e verificar se ele não se opunha que o festival se concentrasse nesse espaço. Sabíamos que o festival tinha também uma conotação um pouco complicada, isto já foi quase há 20 anos e as mentalidades eram um pouco fechadas, porque o que constava lá em cima, quando eles foram para a Arada, era um festival muito orientado para toxicodependentes e essas coisas, que havia consumo e tráfico. Esses boatos não correspondiam, nem um pouco mais ou menos, à realidade. Era pessoal diferente, como é óbvio, e quando as pessoas vêem pessoal diferente à partida fazem logo juízos de valor. Tive uma reunião com os meus colegas da Junta e com o senhor padre, que teve uma mentalidade aberta e disse que depositava confiança em nós e para tentarmos dar resposta e resolver a questão que estava a ser colocada. Fizemos várias reuniões com a organização do Andanças, com a Ana, com o Paulo e com outro pessoal e tivemos em mãos o trabalho de fazer a limpeza toda ao recinto, organizar os acampamentos e o festival decorreu com normalidade. Prof. Adriano Azevedo – Antigo Presidente da Junta de Freguesia de Carvalhais
Então procurámos outro sítio e o sítio que acordámos era uma pequena terra no concelho de São Pedro do Sul, uma freguesia que se chama Manhouce. Combinámos tudo, tínhamos tudo preparado, mas na verdade não tínhamos os políticos connosco. São Pedro do Sul achava que a festa era composta por gente desconhecida, meio estranha e não fazia sentido. 
Então, simplesmente impediram-nos, recusaram-se e disseram que não autorizavam, que não licenciavam. Estávamos a 15 dias do início do festival. Já tínhamos tudo pronto para o nosso grande festival e estava tudo impedido pela Câmara. Em desespero fui ter com um senhor, que era mais ou menos da oposição em São Pedro do Sul, numa aldeia, em Carvalhais. Disse-lhe o que se estava a passar e ele disse: “fazemos aqui”. E foi um grande milagre, em 15 dias conseguiu-se montar o festival todo. A comunidade, a população esteve toda connosco, sempre, e foi impressionante o movimento que se gerou. E nesse ano assistiu-se a um grande boom, passámos de mil participantes para 4 mil participantes. Foi incrível. E vendo bem as coisas, Manhouce nunca teria a capacidade para albergar tanta gente. Ana Martins

A 2 semanas do início ainda não sabíamos onde iria ser o festival. Foi uma coisa muito feita em cima do joelho e com uma entrega brutal por parte das pessoas de Carvalhais, que além do mais, não sabiam o que era o festival, não o conheciam e o festival até teria alguma má fama, era uma coisa onde chegavam uns freaks que depois iam para o cimo da serra. Não havia muito conhecimento do que era o festival e as pessoas tiveram a capacidade e a visão de perceber que poderia ser uma coisa interessante. De facto, é um milagre aquele festival, aliás são todos, esse foi só mais um. Esses 4 primeiros anos foram 4 milagres no que respeita à realização do festival. João Pires
Andanças 2000 — Carvalhais, São Pedro do Sul
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De 21 a 27 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul
Visitar o site Andanças 2000
Numa língua que não existe, numa dimensão por enumerar, o Andanças é sinónimo de “utopia”. Tem como pretensão ser um espaço alternativo onde a cultura participativa é valorizada: A dicotomia Baile versus Concerto assume todo o peso de uma afirmação cultural distinta que entra em ruptura com o conceito de cultura normalmente veiculado. A diferença do Andanças reside neste ponto particular, onde cada um é convidado a inventar o seu Andanças, a programar a sua viagem. Pode dizer-se então que não há um Andanças, mas 3000 ou 4000 Andanças, sendo cada um desenhado por cada interveniente. O Andanças é um espaço aberto e criativo, onde cada um é convidado a escolher os seus próprios ingredientes, como se de uma receita se tratasse.

Ouvi falar do Andanças em 1999 através de um grupo de conhecidos de Setúbal que já lá tinham ido e fiquei com curiosidade em ir, porque era um festival diferente, que nada tinha a ver com os outros festivais e que poderia ser uma nova experiência. Depois no ano a seguir informei-me sobre o Andanças, tentei perceber o que era e o que era preciso fazer para ir e fui juntamente com uma amiga. Foi a primeira e única vez que fui como participante, porque não sabia o que era e nem que tinha o programa de voluntariado. A viagem foi uma aventura, tive de fazer uns telefonemas para Évora, para perceber como se chegava lá e fizemos uma viagem louca de comboio e autocarro, porque não percebemos que os comboios não eram diretos. Quando chegámos ao Andanças estávamos muito cansadas. E depois foi uma experiência de loucos. O festival era muito pequeno, todos se cumprimentavam, ao segundo dia já conhecíamos todas as pessoas, já nos sentávamos ao lado de qualquer pessoa, já convidávamos pessoas para dançar. Não era um festival de massas, logo dançavas com toda a gente. À tarde, no workshop, dançavas com uma pessoa e combinavas dançar com essa mesma pessoa no baile e ias construindo uma rede de conhecidos no festival. No segundo dia do festival estava exausta e dei por mim a tremer. Foi quando me apercebi que o tremer era de fraqueza, pois desde que cheguei ao festival só tinha comido duas maçãs. Estava tão encantada com o programa, queria fazer sempre mais uma dança, queria ouvir os contos, que comer era a última coisa que me lembrava. Tive de parar e de me alimentar para aguentar o resto da semana. Foi uma experiência mágica. Saímos de lá cheias de vontade de regressar e no ano seguinte já fui como voluntária e a partir daí já não descolei. Esta vai ser a 15ª edição seguida, sem intervalo. Marta Guerreiro
Curiosamente foi através da irmã da São Vicente, ou seja, a Joana Vicente foi minha colega de curso em Portalegre e foi ela que me entusiasmou, que falava desta utopia que estava a acontecer na serra, de como tudo lá era diferente. Isto em 1999, foi quando ouvi falar do Andanças pela primeira vez. Fiquei com curiosidade e muita vontade de ir, mas só consegui ir como participante em 2001. Já era em Carvalhais. Fiquei de facto fascinado, na altura fiquei tão maravilhado com aquilo que escrevi, inclusive, uma carta bastante sentida à organização, à Associação Pédexumbo, carta essa que andou perdida uma data de tempo, mas pelos vistos marcou as pessoas, mas eu fiquei muito chateado, porque ninguém me dizia nada, em resposta à carta (…) A primeira coisa que referi foi que nunca me responderam à carta, escrita do fundo do coração e foi então que me disseram que a minha carta andou de mão em mão imenso tempo e às tantas já ninguém sabia quem eu era nem onde morava. Sei que a Mercedes chegou a andar com a carta numa pasta e a levou às reuniões para mostrar às pessoas. Nessa altura fizemos as pazes. Gonçalo Oliveira

Em São Pedro, aquilo foi uma loucura ao princípio. Dormíamos naquele descampado, onde apanhávamos com o Sol, depois puseram lá um chuveiro e tomava-se lá banho. Os bailes foram crescendo, veio pessoal de França. É importante salientar que o Andanças cresceu, não porque quiseram que crescesse, do tipo: “Vamos fazer um mega-festival!” Cresceu porque não havia muita coisa. Na altura não havia quase nada em Portugal, ou havia pouca coisa, que eu conhecesse. Um festival de danças tradicionais europeias, mais francesas do que qualquer outra coisa, às tantas tornou-se num festival multicultural, com inúmeras coisas que não estavam relacionadas com danças ou música, como fazer pão. Nunca mais me hei-de esquecer deste episódio. Estava com o Petchu, dos Kilandukilu, o Pedro e acho que o Cazuza também estava connosco. Tocámos à noite no bar, por pura diversão e caçadores da região gostaram tanto daquilo que convidaram o pessoal da percussão para ir à aldeia deles, Manhouce, a uma festa muito gira onde as senhoras estavam todas cobertas com ouro. A aldeia estava toda em festa. Quando chegámos parámos o carro na cabana dos caçadores, que era um pouco afastada do resto da aldeia. Quando saímos do carro apareceu um caçador vestido com o seu camuflado, que gritou: “Malta, eles chegaram!” E apareceram todos com espingardas, aos gritos e começaram a disparar. Estavam todos a festejar a nossa chegada. Winga
Andanças 2001, 2002 e 2003
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Andanças 2001 - 20 a 26 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul
Visitar o site Andanças 2001

Andanças 2002 - 19 a 25 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul.
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Andanças 2003 - Carvalhais, São Pedro do Sul
25 a 31 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul
Visitar o site Andanças 2003
Dançar até cair... no Festival Andanças, reportagem publicada no Jornal Público a 29/08/2003
Fizemos uma actividade nacional, onde percorremos durante vários dias a serra da Freita e as serras vizinhas e a certa altura um dos nossos chefes disse: “aqui faz-se um festival maravilhoso, chamado Andanças, se puderem venham cá um dia.” E nós que já andávamos no círculo das danças tradicionais ficámos com alguma curiosidade. No ano seguinte, em 2003, o meu namorado da altura fazia parte de um grupo de teatro de rua, que foi fazer animação de rua no festival e eu fui acompanhá-lo. Acabei por também participar numa das animações e até apareço no livro do aniversário do Andanças. E só descobri isso anos mais tarde. Sou uma das personagens secundárias da animação, que vai percorrendo a rua. Eu já estava no mundo das danças e tenho memórias muito emocionais de deslumbre, porque nunca fui de frequentar festivais de Verão e não gosto de muita confusão, mas lembro-me de estar deslumbrada com tudo aquilo.  Luísa Fonseca
Para mim, o Andanças representa várias fases na minha vida. Representou já diferentes coisas e tendo sido 1999 o primeiro ano em que fui e fui durante muitos anos seguidos, também fez parte do meu crescimento. Representa várias fases de vida, formas de estar na vida, representa também a 
quantidade e a diferenciação de pessoas que existe. Lembro-me perfeitamente de uma vez ver um tipo de kilt e mangas cavas, com um ar mesmo descontraído, do tipo “eu visto o que me apetece, porque me apetece!” Ele era advogado e vestia-se assim porque normalmente vestia-se de fato e gravata e queria estar ali absolutamente descontraído. E é um ambiente propício a isso, ninguém está ali a julgar ninguém e a intenção é que as pessoas estejam realmente à vontade, sem estarem a ser alvo de crítica ou de olhares. Depois há uma junção absolutamente incrível de todo o género de pessoas. Conheci um “ocupa”, advogados, médicos, há de tudo, portanto, representa ali uma junção de cores, é um arco-íris absolutamente incrível, o festival Andanças. Miguel Barriga
No primeiro ano em que não entrei no recinto, só lá fui no domingo. Fui dançar e senti que estava nas nuvens, mas não sentia os pés, não sentia nada. O cansaço era tanto que já transcendia o lado físico do peso e tinha mesmo a sensação de que tinha estado a alimentar a energia de todos aqueles pés que tinham pisado aqueles palcos. É esse espírito que tem habitado a cozinha do Andanças nestes anos todos, essa profunda ligação, essa consciência de que estamos a alimentar com alegria e com boas energias o pessoal que está a dançar. Sara Carvalho
Andanças 2004 e 2005
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1 a 7 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul
Visitar o site Andanças 2004
Andanças 2005 — Sustentabilidade
1 a 7 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul Visitar o site Andanças 2005
Em 2004, fui como participante. Não era uma pessoa de ir a festivais, não era na altura e não sou agora também, mas há alguns anos que me diziam “Rui tens de ir porque é a tua cara!” Nesse ano resolvi ir e fui com a minha filha, com primos e a Graça também foi, uma daquelas coincidências, e a dada altura fui tocado pelo festival. Tinha comprado um bilhete para 3 dias, a pensar que se não gostasse ia-me embora e acabei por ir comprando mais bilhetes até ao fim da semana. Rui Leal

Eu já tinha ouvido falar, como toda a gente, e em 2003 convenci alguns amigos a irmos ao Andanças, só uns dias. No ano seguinte já fui praticamente a semana inteira e depois nunca mais parei. Graça Gonçalves
 
O que é que um grupo de engenheiros do ambiente faz quando se junta?
Parece o início de uma piada, mas foi o que aconteceu há 11 anos, em Carvalhais. Graça e Rui, entre outros, encontraram-se em 2004, no Andanças e desde então o Andanças nunca mais foi o mesmo.

Num dos últimos dias do festival estávamos a tomar o pequeno-almoço e iniciámos uma conversa com o João Pires, onde lhe falámos sobre o enorme potencial a nível ambiental, ao que ele respondeu para apresentarmos uma proposta. Rui Leal e Graça Gonçalves

Em 2004, na cantina, comia-se em descartáveis de plástico, talheres, copos, pratos e um dos principais objetivos deste grupo de "eco-primos" ao planificar o projecto Eco Andanças foi a redução do impacto ambiental num evento como o Andanças.
Em 2005 iniciaram a sua colaboração com o festival introduzindo uma série de preocupações ambientais, sendo uma das mais significativa a recolha selectiva, através da distribuição de sacos de plástico coloridos por todo o recinto para incentivar a separação dos resíduos de embalagens, papel e cartão e vidro.

Começaram a quantificar e a fazer a triagem dos descartáveis. Como não havia reciclagem de descartáveis em Portugal, a iniciativa era uma espécie de ensaio para o futuro, visando também forçar os sistemas de recolha seletiva intermunicipais a prepararem-se para poderem reciclar os descartáveis. 

Pretendiam também reduzir o uso dos descartáveis e para isso incentivaram os participantes a trazerem loiça de casa e iniciaram a venda de kits de louça reutilizável: louça de piquenique, de plástico, e com isso beneficiar de um desconto na refeição. Para facilitar, foi criado o Pratário, lugar onde os Andantes podiam guardar a sua louça.

Desta forma, os participantes podiam trazer a louça reutilizável para a cantina. Uma medida criada para estimular o uso da louça reutilizável.
Investiram também na sensibilização do público, englobando a poupança no consumo da água e as energias renováveis, como demonstração. 
Desde esse ano que a preocupação pela vertente ambiental tem ganho expressão sob diferentes formas no Andanças.
Andanças 2006, 2007 e 2008
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Andanças 2006 — Diversidade | 31 de Julho a 6 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul

Visitar o site Andanças 2006
Andanças 2007 — Metamorfose 
30 de Julho a 5 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul
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Andanças 2008 — Energias e Sinergias: A música, a Dança e o Mundo | 4 a  10 de Agosto, Carvalhais, São Pedro do Sul

Visitar o site Andanças 2008
Brincadeira tem hora
Tinha acabado de chegar a Lisboa, com a minha companhia, os Kilandukilo e fui contratado para fazer uma apresentação no Marquês de Pombal. A Diana Mira estava lá a fazer publicidade ao Andanças, deparou-se com o nosso show e ficou a assistir até ao fim. Quando terminámos de atuar ela veio falar comigo. Disse que nunca tinha visto algo igual e convidou-nos para fazermos um espectáculo no festival.
O Andanças para mim é uma aventura e é um espaço que me proporcionou conhecer pessoas e dar a conhecer tudo aquilo que é o meu trabalho. Faz parte da minha vida. Foi no Andanças que comecei a dar aulas de kizomba. 
Lembro-me de uma vez, numa das aulas, acabei por ficar sem música, porque estava a pular bastante perto da aparelhagem e começámos todos a cantar. Petchu

Permitiu-me abrir os horizontes ao nível da compreensão da dança. Acho que é um projecto que é único, não conheço nenhum projecto que tenha esta envergadura e que ainda tenha algum envolvimento das pessoas. Uma pessoa sente o calor humano. Há festivais maiores onde uma pessoa não se sente tão descontraída. O Andanças como elemento de ligação a muitos de nós foi  único, foi forte. Quim das Mil e uma Danças

A primeira vez que fui ao Andanças, fui com a minha irmã, uma prima e uma amiga, que curiosamente tinha ido no ano anterior, motivada por mim e que quando chegou do festival disse-me que, de facto, aquilo era a minha cara, que eu quando lá chegasse ia ficar mesmo apanhadinha pelo festival. E assim foi. 2003 foi a minha primeira experiência no Andanças, fomos apenas 2 dias e de facto, quando lá cheguei, fiquei agarrada de todo, logo na primeira impressão. E foi muito curioso porque a primeira oficina em que participei era de danças minhotas. Para mim, que sou minhota, foi uma agradável surpresa, porque não estava nada à espera de ver ali as danças e as músicas da minha terra e poder logo dançar sem qualquer problema. Foi um ano de grandes descobertas. E quando saí de lá, vim muito triste, porque gostava de ter ficado mais tempo. Em 2005 mudaram as datas e eu não me apercebi, a tempo e horas, e quando comecei a pensar em ir ao Andanças, já o Andanças tinha terminado. Foi uma tristeza muito grande, chorei baba e ranho. Em 2007, adoeci na semana antes do Andanças, já com tudo pronto para ir, e fui operada de urgência. Fiz uma promessa de que no próximo ano iria e assim foi. Fui em 2008, o primeiro ano em que fui sozinha, mas como é um festival em que é muito fácil a interacção com as outras pessoas, há um ambiente muito familiar e de muita segurança, eu sentia-me perfeitamente à vontade para poder ir sozinha. Ana Paula

Durante muitos anos, o Andanças foi paragem quase obrigatória do meu Verão. Comecei aos 6 anos, quando ainda éramos pouquinhos e o festival era no pico da montanha, com muitos enjoos para lá chegar. Acompanhei a mudança para Carvalhais, fui participante, voluntária e coordenadora de equipas. Os tempos do peddy-paper, das folhas em pasta de papel e do “street dance para crianças” deram lugar a outros. 
Fui menina e um bocadito menos menina, acordei cedo e tarde, passei noites a dançar e também a trabalhar. O Andanças viu-me crescer, tal como eu o vi crescer. Fomos mudando, os dois, algumas vezes a pouco e pouco e outras muito rápido.
Infelizmente, não “assisti à mudança para o Alentejo. Como o Andanças, também eu tive uma grande mudança e ainda não me foi possível voltar para matar saudades. Mas durante todo o ano, uma parte de mim está de chinelos a dançar, num palco cheio de pó e rodeada de pessoas boas. 
O Andanças fez parte de quase toda a vida de que lembro. E é especial. Sarah Saint-Maxent

Eco Andanças
Iniciámos 2006 a tentar reduzir os descartáveis fora da cantina e introduzimos a caneca, mas apenas como opção: era emprestada no canecário e noutros bares e se as pessoas utilizassem a caneca tinham um desconto na bebida. Eram incentivados a usar a caneca, em vez dos copos descartáveis. A adesão foi q.b. e em 2007 também fizemos o mesmo. Fomos sempre fazendo campanha pela caneca, até que em 2008 resolvemos, em conjunto com a coordenação do festival, a direcção da PédeXumbo e os parceiros locais, foi um assunto assumido até politicamente pelos representantes da câmara e da junta, que íamos apostar na caneca a 100%. Não havia descartáveis, foi um desafio muito interessante, porque acreditávamos que íamos no bom caminho, mas sabíamos que não ía ser fácil. A partir de 2008, o Andanças ficou livre de descartáveis para bebidas e progressivamente fomos substituindo também os outros descartáveis. Foi progressivo mas 2008 foi um ano de viragem, pois a partir daí conseguimos que o festival, com a dimensão do Andanças, não tivesse copos descartáveis. Em termos de limpeza do recinto foi notória a diferença, pois ao final da noite deixou-se de ver copos e outros descartáveis  no chão. Graça Gonçalves

Medidas eco implementadas a partir de 2006:
−    Surgem as 3 orientações iniciais: analogia das sementes como propósito da equipa eco: semear inovações e melhorias de práticas ambientais, enraizar no festival para os anos seguintes e na comunidade local e disseminar melhores práticas;
−    Com a implementação das canecas, aumentou o número de bebedouros de água espalhados pelo recinto;
−    Reutilização das águas dos duches;
−    Substituição das torneiras por torneiras de pressão, reguláveis;
−    Existência de um piquete de prevenção, para resolução de avarias;
−    Aumento gradual e aperfeiçoamento dos mini-ecopontos que eram espalhados por todo o festival;
−    Recolha selectiva expandiu-se aos orgânicos;
−    Cinzeiros para recolha de beatas;
−    Divulgação de notícias Eco-Andanças no Jornal do Andanças.
Andanças 2009, 2010 e 2011
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Andanças 2009 - Silêncio
Andanças 2010 — Comunidade
Andanças 2011 — Pausa
Visitar o site Andanças 2011
O Andanças continua a ser um espaço de magia, de utopia, de muita intervenção. Ainda se faz muita intervenção no festival. Ainda faz todo o sentido continuar a acreditar que o Andanças é um espaço de formação, de partilha, de inovação. Muitas coisas que hoje são dadas como adquiridas em muitos festivais, em muitos espaços, em muitos contextos de eventos sociais foram experimentadas e desenvolvidas no Andanças... Apesar de hoje acharem-se óbvias, foram fruto de muita carolice, de muita experimentação, de muitas tentativas e erro, de improviso. Mas essa é talvez a grande riqueza do Andanças, permitir que toda a gente tenha capacidade de opinar e de realizar. Toda a gente é útil.  Desde que as propostas funcionem são bem-vindas, são aplaudidas, incentivadas. O Andanças é acima de tudo um laboratório social. Luís Moura

Houve muitas, ao longo destes anos, muitas situações engraçadas que agora estou a recordar-me e que podia relatar, mas houve uma particularmente engraçada, que se foi construíndo durante o festival. Um grupo de pessoas, de vários países, que se foram conhecendo e depois do festival ficámos mais uma semana, a prolongar, a curtir, em São Pedro do Sul, no famoso Poço Azul, que toda a gente que foi ao Andanças conheceu necessariamente. Ficámos aí mais uma semana, naquele rio maravilhoso e depois regressámos todos a Lisboa. Curiosamente, ao chegarmos a Lisboa separámo-nos todos e sem termos combinado nada, no fim desse mesmo dia já estávamos todos novamente juntos.
Para mim o Andanças é um local de encontros, de sinergias, de partilhas. De encontros porque ao longo destes anos conheci muita gente e fiz amigos que mantenho até hoje. De sinergias e de partilhas porque nesses encontros há muitos processos e informação que é trocada e onde se ensaiam muitas coisas, principalmente de fusões de corpo, de música, dança, por aí fora. Marco Cruzeiro

Percebi que ainda era uma dúvida, ou seja, ainda não estava completamente decidido se ia haver Andanças ou não, no ano a seguir. Não sou nada pessimista, nem gosto de pôr o sofrimento à frente da realidade e por isso vivi o Andanças de 2011 como um Andanças qualquer, com o máximo de energia que tive e sem drama nenhum. Toquei com os Homens da Luta e foi super-divertido infiltrá-los no Andanças, toda a gente divertiu-se muito. Celina Piedade

A partir de 2004 deixei de ir ao festival. Tinha um projecto no estrangeiro, andava sempre muito ocupada e decidi passar as minhas férias de Verão nesse projecto no estrangeiro. Durante uns largos anos deixei de ir ao festival. Depois terminei o projecto e regressei em 2009, voltei a coordenar o Andanças em 2010 e assumi a responsabilidade de mudar de sítio. Ana Martins

Foi-se construindo um festival à medida das necessidades e com vista à inovação. Foram parcerias muito eficazes, muito importantes. De facto o Andanças atingiu números muito expressivos. Tivemos ao longo dos tempos alguns problemas, nomeadamente, num ano com o incêndio em pleno festival... É importante a gente perceber que o festival serviu para mudar mentalidades aqui na região, na freguesia, no concelho, na região toda e era muito querido aqui, as pessoas ainda hoje recordam com muita saudade o contacto que lhes era permitido ter com os Andantes, quer antes, quer no festival, quer depois. Acho que foi positivo em termos de abertura de mentalidades. Entretanto houve algumas mudanças, por assim dizer, na organização da PédeXumbo, houve também algumas situações não muito claras entre as duas organizações do Andanças e as coisas começaram a complicar-se, de alguma forma. Sempre fui um grande apologista de que devíamos criar um espaço de raíz, tivemos candidaturas feitas para o efeito, mas entretanto houve a opção de sairem e nós respeitámos, como é óbvio. Prof. Adriano Azevedo – Antigo Presidente da Junta de Freguesia de Carvalhais 

Comecei o meu primeiro ano na Coelheira, já não sei em que ano, voltei lá no ano seguinte, como participante e adorei. Daí até 2005, vim todos os anos, pelo menos ao fds, e acompanhei o festival a crescer. Ano após ano, as alterações infraestruturais tentavam consequentemente adaptar-se ao "monstro" que vinha crescendo... Em 2005 regressei, nesse ano andei aos papéis... A partir de 2006, face às minhas funções em Carvalhais, no CPS e na junta, envolvi-me com o Andanças... apaixonei-me e "casei" com o Andanças. 
O Ricardo pode ficar descansado, porque não foi o único que me acordou às 3 da manhã, ou às 4 ou às 5... O problema era quando me acordavam às 8, 8:30, aí sim custava... Mas fazia-o por gosto, gostava muito de vos aturar a todos... 
Foram planos, montagens, máquinas, princesinhas, pto's, lixo, água, pratos, canecas, garrafas de plástico aos montes, segurança, estacionamentos, palcos, tendas, bancos, mesas, cadeiras, casas de banho, chuveiros, aquecimento solar, reciclagem de água, contadores, cagadeiras portáteis, bares, "elevadores" improvisados, cerveja...muita cerveja e hidromel com fartura, DANÇAS, enfim... tanta coisa, tanta alegria, tanta emoção...
Até que em 2010 houve o fogo e adormecemos todos com o "fumo"... Mas só em 2011 é que tudo "ardeu"...
A partir daí, não tive mais coragem nem disposição para voltar ao Andanças... peço-vos desculpa... mas compreendam que é-me muito difícil...
Sou suspeito, mas permitam-me: Carvalhais é Andanças e Andanças é Carvalhais...
Continuamos de portas abertas... com tudo preparado, à distância de um par de meses...
Quem sabe num ano destes...Espero vê-los por cá, a todos, mesmo àqueles que levaram o Andanças - o verdadeiro ANDANÇAS – daqui... José Carlos Almeida

EcoAndanças
Existiu EcoAndanças até 2009/2010. Deixou de existir porque começámos a perceber que o Ambiente era sobretudo um dos pilares do Andanças e não um grupo à parte. A partir de 2009, mais concretamente 2010, o grupo EcoAndanças deixou de existir e passou a ser um dos pilares do Andanças e portanto algo transversal, que estava a par dos outros 3 pilares que sustentam e fazem com que o festival aconteça: voluntariado, comunidade e acima de tudo, música e dança.
Estes anos, 2009 e 2010, foram anos em que tentámos inovar, mas que o espaço, no fundo já não permitia muitas inovações. Continuámos a trazer ideias, especialmente no campo da energia. Em 2010 houve mesmo um bar solar, um tasco onde a comida era toda feita em fornos solares. Continuámos a fazer algumas coisas interessantes, mas apenas exemplificativas, que depois não permaneciam no local ao longo do ano.
Em 2011, passámos a ser um grupo mais transversal, a tentar que a componente da sustentabilidade fosse transversal a todas as equipas para que reduzissem os seus consumos. Graça Gonçalves

"O PIO DO CISNE"
2009 ou 2010? Tinha eu 72  ou 73 anos?
Já não sou capaz de precisar, mas também já  pouco interessa...
O que  sei é que era o tempo das "Andanças" de Agosto, ainda na freguesia de Carvalhais,  concelho de S. Pedro do Sul.
Desde a primeira hora que visitei o festival que fiquei logo a gostar imenso dele, porque, na verdade, aprecio a música  de qualidade,  gosto de ver dançar, gosto de me sentir envolvido por um clima de alegre juventude,  e porque (digam lá o que disserem), na  meia dúzia de vezes que por lá passei nunca me foi dado ver alguém portar-se mal, nem velho  nem  novo.
O festival decorria muito próximo da igreja matriz da freguesia,  uma igreja do Século XVIII ou XIX toda rodeada de árvores frondosas, muito bonita, muito bem conservada (nenhum  participante se atrevia a inscrever  nas suas alvas paredes o mais pequeno risco!), e distribuía-se por dois patamares situados uma dúzia de metros abaixo  da igreja: o primeiro - excluído  que fosse um pequeno declive lateral de acesso, também arborizado, onde se vendia toda a sorte de quinquilharias - era  nem mais nem menos do que o campo de futebol da terra, onde eram implantadas temporariamente seis tendas oblongas de riscas verdes e brancas e dois ou três bares com as respetivas esplanadas; o segundo, situado uns quatro a cinco metros abaixo do nível daquele, era aparentemente um antigo campo de cultivo terraplanado mais tarde, onde se erguiam mais duas tendas idênticas às anteriores e, em particular, numa das extremidades, o "Palco Alto", um palco bem estruturado e bem iluminado, onde todas as noites uma banda fazia a sua exibição para os adeptos postados de pé.
Durante o período diurno, em todas as tendas, por  intermédio de experts contratados para o efeito, eram ensinadas danças de vários países aos grupos de participantes  que as desejassem aprender, mas, para além disso, em todos os recintos do festival podiam ouvir-se também, a qualquer hora, pequenos grupos instrumentais amadores, ou mesmo instrumentistas individuais, portugueses ou estrangeiros, tocando os  instrumentos mais variados. À noite, após o jantar, o programa era completamente diferente: em cada uma das oito tendas instalava-se uma banda executando o seu ritmo próprio através de uma boa aparelhagem sonora, para que os participantes  pudessem  aí dançar livremente até ás três horas da manhã. 
Como costuma dizer-se em linguagem juvenil, vivia-se ali  um ambiente verdadeiramente "curtido"!
Não estou certo de ter dançado alguma vez. Mas o problema era simplesmente meu, porque poderia tê-lo feito à minha vontade, pois ninguém mo proibiria e, mais provavelmente, nem sequer daria por isso... Daí que o meu passatempo consistisse  em deambular continuamente de tenda para tenda a ver os outros a dançar, detendo-me por mais tempo na abertura de uma ou outra tenda em que a música se me afigurava mais cativante, ou o ritmo da dança mais conseguido. Quando me sentia um pouco mais cansado da minha deambulação, sentava-me numa das esplanadas do recinto, bebia paulatinamente uma ou duas imperiais, e entretinha-me a ver a juventude  deambulando  de um lado para o outro na sua parca indumentária, enquanto me deliciava com a música  que me assomava aos ouvidos, vinda de todas as direções.
Não costumava demorar-me lá mais do que três dias, mas recordo-me ainda perfeitamente de que, ao fim da manhã de um desses dias apeteceu-me deter durante mais algum tempo junto à abertura de uma das tendas do recinto superior, onde se ensinavam  danças israelitas.
Na fase inicial a instrução era sempre ministrada em grupo, postando-se o instrutor, ou imediatamente em frente da instalação sonora ou no centro de um círculo formado pelo grupo dos alunos, conforme por ele fosse achado  mais conveniente. Concretamente nessa tenda, a instrução já ia adiantada, e o grupo já se permitia o luxo de dançar com alguma liberdade no centro do tablado. 
Encontrando-me a observar a movimentação sincronizada dos executantes ao som da melodia prevalecente, de repente dei com o meu olhar a fixar-se insistentemente numa jovem bailarina cuja idade estimei entre os 19 e os 23 anos, a qual dançava só,   completamente alheada do mundo que a envolvia, embora ocupasse um dos pontos da  oval então formada pelo grupo em movimento. Estava descalça e envergava pouca roupa  (como, de resto,  ali era vulgar) mas irradiava, com uma  simplicidade imanente, uma postura extremamente cativante. Quando resolvi observar-lhe o rosto, reparei que não era excecionalmente bonita - embora não fosse de modo algum  feia - mas, o que ela era, era  de uma elegância extrema: um corpo sobre o magro, uns ombros largos notoriamente mais elevados do que o habitual, umas pernas não muito altas mas bem torneadas e, de resto, todas as carnes  em dose certa, nos lugares certos... Todavia, o que mais  me chamou a atenção é que ela dançava divinamente, inscrevendo-se de forma primorosa no ritmo que estava a ser interpretado e movimentando os braços finos e as mãos delicadas de uma forma tão harmoniosa e tão surreal, que pareciam estar a convidar-nos  continuamente a aceder a um outro mundo!
E não consegui sair mais da abertura daquela  tenda até próximo da hora do almoço, hora em que as escolas interrompiam a sua atividade, para que todos pudessem ir cuidar das suas exigentes barriguinhas.
Fui também eu almoçar na grande tenda da cantina lá do sítio, mas, encontrando-me completamente só, não conseguia de forma alguma arredar do meu pensamento a imagem daquela inebriante criatura.
Tal como fazia sempre após o almoço, fui descansar durante algum tempo junto à minha caravana e, aí por volta das três da tarde, regressei novamente ao recinto de dança. Como podem imaginar, não poupei esforços a cocar exaustivamente todas as tendas, onde as lições de dança já tinham recomeçado, para ver se voltava a encontrá-la. E o que é certo é que a encontrei mesmo. Inicialmente não estava a dançar, encontrando-se de pé, próximo da embocadura de uma das tendas, tagarelando com um  grupo de quatro jovens amigos e amigas mais ou menos da mesma idade, por quem, aparentemente, se fazia acompanhar. Observando o grupo de longe, nem sequer me foi possível entender a língua que falavam, o que não me permitiu chegar a qualquer conclusão sobre se seriam portugueses ou estrangeiros, mas, no fundo de mim, começou a surgir a suspeita de que talvez pudessem ser brasileiros.
A tagarelice durou pouco tempo, porque, poucos minutos depois, a menina separou-se do grupo e saltou para o tablado da tenda  mais próxima, começando de novo  a dançar freneticamente o ritmo que estava  então a ser ensinado e permanecendo aí durante quase toda a tarde ...  
...tarde essa que se revelaria bastante quente! A certa altura ela resolveu por termo à sua atuação e ir refrescar-se num dos chuveiros ao ar livre localizado junto ao  talude que separava os dois pisos e eu lá fui atrás..., mantendo-me a observá-la  continuamente, todavia, note-se, com a maior discrição. Por acaso postou-se de costas para o lado em que me encontrava, o que de certo modo me facilitou a vida. Retirou  então, apenas, a peça  de roupa  que lhe cobria o tronco e ficou em soutien, deleitando-se  longamente com a  profusa chuvada que lhe caia sobe os ombros, mas evidenciando sempre uma atitude de autonomia e de compostura a todos os títulos irrepreensível!
 Dado que, na altura, não havia mais ninguém nas imediações, conservei-me sempre a uma distância respeitosa, mas não tão longe que, até ao presente, se tenham diluído na minha memória algumas gotas de água que se demoravam durante mais algum tempo sobre as costas apelativas daquele ser angelical, enquanto não chegava a sua própria hora de se precipitarem desesperadamente no chão!
Depois disto ela desapareceu, não sei exatamente para onde, e eu lá continuei a deambular, também não sei exatamente por onde... ... ...
Quando o sol começava a por-se, rasando já os cumes das belíssimas montanhas que rodeavam o lugar de Carvalhais, era habitual, lá em baixo, no piso inferior, sobre um estrado montado frente ao Palco Alto, os técnicos começarem a fazer experiências com a aparelhagem sonora, com vista a testarem-na para o espetáculo da noite.
Foi o que aconteceu nesse fim de tarde. Para o efeito eles  instalavam na   aparelhagem um qualquer CD de música gravada a fim de se assegurarem plenamente de como ela se comportaria algumas horas depois, música essa que era então transmitida para todo o recinto alto e bom som, sobrepondo-se a todas as demais sonoridades que a essa hora  ainda brotavam das tendas. A certa altura, provavelmente porque me encontrava ainda sob o efeito da emoção anterior, a minha atenção começou a sentir-se fortemente atraída por uma canção, interpretada em língua espanhola, que chegava lá de baixo com grande intensidade e que, gradualmente, começou a “bulir-me intensamente com a tripas” - tal como diria o meu saudoso amigo José Ferreira, se ainda andasse por cá.  Sentia pena de não conseguir entender a letra da canção em causa, mas tinha que compreender que,  não só era um pouco duro de ouvido, como também não dominava lá muito bem o espanhol. Mas a verdade é que comecei a sentir-me de novo profundamente emocionado, como se de repente se tivesse produzido à minha volta todo um fenómeno  múltiplo de magia, jamais  por mim vivido.
Disse então impetuosamente  para os meus botões:
"Tenho que saber o nome desta canção, dê lá para onde der!"
Tomei logo a decisão de me deslocar ao piso inferior através da curta rampa empedrada que lhe dava acesso e, dirigindo-me a um dos operadores que se encontravam  de serviço no estrado de controlo, perguntei-lhe:
"Por favor, pode dizer-me o nome da canção que acabou de ser  transmitida?"
"Veinte años!- respondeu-me  ele - é uma interpretação do Buena Vista Social Club"
"Veinte años? Meu Deus! Veinte años?  Quem é que alguma vez os não teve? Quem? Quem?..."    Não podia  mesmo acreditar!

Entretanto a noite implacável começou a cair sobre pessoas, coisas e animais, bem como sobre os eventos daquela dia, absolutamente ímpar, da minha vida. Embora me sentisse sempre interiormente um pouco "abananado", resolvi ir, ao menos,  gratificar-me com o meu jantar, já que, na realidade,  não visualizava melhor sítio para onde pudesse fugir... ... 
O espetáculo no Palco Alto começava, salvo erro,  por volta das vinte e uma e trinta, e como me despachei rapidamente do jantar, decidi deslocar-me para o piso inferior com uns largos minutos de antecedência, para apreciar, eventualmente, a música que a banda estaria a ensaiar, e também porque, durante esse período, não havia muitas outras alternativas.
Quando cheguei ao terreiro era já noite cerrada e, para além dos operadores, ainda não se encontrava  ali  vivalma. Enquanto esperava, postei-me um pouco à frente   e à esquerda do estrado de controlo do som, entretendo-me a observar os trabalhos que iam sendo  executados no palco,  quer de ajustamento do cenário quer de regulação dos potentes holofotes. Mas a verdade é que o meu  espírito não conseguira libertar-se, ainda, de todo das emoções profundas que o tinham abalado durante o dia. A certa altura, dei comigo a pensar:
"Nunca mais a vi!  Para onde terá fugido? Se calhar nunca mais a verei! Mas,  e se se desse o caso de a voltar a encontrar aqui? ...e se, acaso, ela estivesse aqui?"
Instintivamente, um pouco à toa, decidi rodar a cabeça para trás  e, do mesmo lado em que me encontrava embora um a dois metros à retaguarda do estrado, logrei enxergar um grupo de quatro ou cinco jovens que entretanto também  havia chegado, e que ia tagarelando enquanto fazia horas, tal como eu. E, talvez não me acreditem, não obstante a profunda escuridão que então caíra sobre o local, eu não tive a menor dúvida,   repito, a menor dúvida, de que a silhueta de uma das jovens que ali se encontrava... era a dela!!!
"Meu Deus! Meu Deus! Como era aquilo possível? Como era possível uma tal "provocação"?!!!
Entretanto começou a chegar muito mais gente ao terreiro, e o espetáculo lá começou, com era habitual.
Tudo haveria de ficar por aí.
Mas, volvidos que são já alguns anos, tenho que confessar sem rebuço que,  poucos dias mais tarde, vim a ter a clara perceção de que fora aquela a minha última paixão...  ...
Por um pouco de todas as andanças, como bem podem calcular!
Ou teria sido, antes, o  meu... “pio do cisne"?

Tendo regressado à minha casa, em Oeiras, não descansei enquanto não consegui encontrar o CD do Buena Vista Social Club que me tinham indicado. E  a canção que, dias antes,  tanto me arrebatara, encontrava-se de facto lá, e rezava assim:


Qué te importa que te ame
Si tú no me quieres ya?
El amor que ya passado
No se debe recordar

............................................

Com qué tristeza miramos
un amor que se nos vá - és
un pedazo del alma
que  se arranca sin piedad.


Que  enorme calafrio!
Rui A. P. Marcelino, Julho  de 2014

Andanças 2012 — Andanças 24h
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Esse ano foi muito emotivo e muito especial, porque nós não sabíamos... — eu acho que há muita gente que tem uma relação muito emocional com o Andanças, mesmo pessoas que hoje em dia já não lá vão tocar e mesmo quem discute se os músicos devem ou não ser pagos, acho que este tipo de assunto ainda existe porque há muita gente que se sente emocionalmente muito ligada ao Andanças, não o quer perder e acha que faz sentido lutar por ele, seja em que moldes for —, e esse ano era uma incógnita, porque era o primeiro ano em que não havia Andanças durante uma semana e o festival nem sequer se chamava Andanças, durava apenas um dia e chamava-se Danças na Água. Acho que quem não foi deve ter ficado com um vazio, a pensar que lhe faltou algo. Mas mesmo quem foi, eu sentia-me um pouco angustiada porque não sabia o que ia encontrar. Não sabia se ia gostar daquele Danças na Água como gostava do Andanças. Cheguei lá e ao fim de meia hora — até comentei isso com o pessoal que estava comigo—, ao fim de meia hora comecei a ver as caras conhecidas, as pessoas a chegarem, comecei a ouvir a música e ao fim de meia hora já estava feliz e super tranquila, porque senti que o Andanças estava ali na mesma. Era outro sítio, tínhamos saído de São Pedro do Sul, eu nunca tinha visto o Andanças noutro sítio a não ser lá, porque não fui às primeiras edições e a sensação que tive foi a de que não importa onde se faça este festival, o espírito está lá sempre. As pessoas e a mesma sensação de que é um momento especial, é um momento importante para a vida de quem lá vai. E o 
nosso baile foi no último dia e foi super mágico. As pessoas estavam muito emocionadas. Para mim também foi muito especial porque tinha lançado o meu disco, estava a trilhar um novo caminho e alí senti-me mais do que em casa e mais do que acarinhada e esse baile foi muito especial. O facto de ser de dia também o tornou diferente e como foi no fim acho que toda a gente aproveitou para soltar a ansiedade que carregava sobre o futuro do Andanças. Será que aquele ano iria resultar? E foi o momento em que todos se aperceberam que a festa foi maravilhosa. Celina Piedade

Acho que foi super importante não terem parado, mesmo que não pudessem assegurar um festival com as mesmas dimensões de um ano para o outro, o facto de terem mudado de sítio, fazerem o Andanças 24 para marcarem o ponto, para as pessoas não pensarem que “vai deixar de existir?”, não, continua, é um momento de transição. O festival era num sítio super bonito, tinha um rio onde podíamos estar sempre a chapinhar, relaxar e refrescar um pouco. Acho que é importante ter água por perto. Lembro-me especialmente de uma jam session. No último dia, houve um palco que ficou amplificado para quem quisesse tocar na jam. Foi uma jam super louca, com montes de gente no palco e eu também estava lá. As senhoras da limpeza dançavam com os baldes e cantavam, os bêbados estavam divertidos, a rir e a dançar. Estava um homem, estoirado pelo cansaço, a dormir em cima do palco e pusemos o microfone ao lado dele para ressonar connosco, ao ritmo da música. Esta é a memória mais engraçada que tenho do Andanças 24. Eva Parmenter
Andanças 2013 e 2014
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Andanças 2013 — A Descoberta

Visitar o site Andanças 2013

Jornal Andanças 2013
Nesta transição de 2012 visitámos umas dezenas largas de sítios alternativos, ao longo do país, com estes critérios que se foram definindo: centralidade; acessibilidade; transportes públicos; natureza generosa; sombra; água para lazer e recreio, para usufruto dos Andantes; melhores condições de espaço e de expansão no futuro e que pudesse vir a tornar-se uma espécie de centro ou de pólo a que se chamaria “A Casa do Andanças” e eventualmente, quem sabe até no futuro, a médio ou longo prazo, da própria PédeXumbo. Isto foi a visão que surgiu na altura. Rui Leal

Tenho responsabilidades por o Andanças acontecer em Castelo de Vide, porque fui uma das pessoas que se voluntariou para visitar os lugares que tinham sido identificados por uma equipa. Houve um grupo de batedores que identificaram um conjunto de lugares onde podia acontecer o Andanças e depois fomos visitar esses lugares. Eu fui uma das pessoas que andou a visitar esses lugares e votei em Castelo de Vide. Até tenho fotografias desse dia. Mas não previa que fosse tão quente como esteve no primeiro Andanças. Mário Rainha Campos

Desde que o Andanças foi para Castelo de Vide sofreu uma série de transformações. Se calhar por o primeiro ano ter sido muito duro. 2013 foi um ano que nos obrigou a um esforço físico e a uma capacidade de adaptação brutal. Neste momento, o Andanças representa um grande esforço, um grande esforço para não deixar cair. Luísa Fonseca

Posso dizer que a primeira refeição que fiz em Castelo de Vide foi sem facas, sem tábuas e com a ajuda das minhas filhas, que estiveram a cozinhar comigo. Foi caótico. Tentámos dar um passo maior do que as pernas. Tinhamos idealizado o que gostaríamos de oferecer, mas não tínhamos condições. Não há verbas, é muito difícil concretizar ideias com poucas verbas e com pouco tempo de preparação. Sara Carvalho

Em 2013, o Andanças mudou de casa, foi para Castelo de Vide, e aí só foi implementado o básico da parte da sustentabilidade, mas não as inovações, porque não houve margem, não houve possibilidade para isso. Portanto continuou a implementar-se a recolha selectiva, as canecas, os descartáveis zero, loiça reutilizável na cantina, lavatário e passou a haver um canecário. Graça Gonçalves 
Adorei o Baile dos Voluntários do ano passado (2014), foi super especial. Estava toda a gente com aquela cara de quem tinha chegado, de quem tinha chegado a uma coisa boa. É uma sensação óptima e no final também tens, mas já estás cansada, já comeste muito pó. É muito bom estar ali até ao final e ver a festa a fechar o seu ciclo. Mas também é muito bom tocar para receber as pessoas e é uma coisa especial, porque é para os voluntários, porque no fundo, são as pessoas que fazem o festival e permitem que ele continue a acontecer. Celina Piedade

Era a nossa última noite no Andanças e queríamos aproveitar ao máximo. Ficámos no forró até às tantas e depois decidimos ir nadar para a barragem. Vimos o nascer do Sol do topo de uma árvore, com todos os peixes e pássaros a acordar. Às sete da manhã ainda dançávamos. Quando os workshops começaram, fomos tomar o pequeno almoço, mas o cansaço começava a apertar. Ia haver um workshop de Ópera Tribal às 11 da manhã, e queríamos muito participar. 
Cambaleámos pelo Andanças, a dormitar em fardos de palha aqui e a ali, e acabámos por ir para o palco uns 20 minutos antes do workshop. Começámos a dançar, depois parámos, depois sentámo-nos e por vim estávamos deitados no palco, completamente adormecidos. O workshop começou e nós nada, a dormir que nem uma pedra. Fui a primeira a acordar. Toda a gente dançava à nossa volta, só se viam pés. Acordei os outros e com um esforço enorme, que desapareceu mal começámos a saltar, juntámo-nos à malta! Matilde Real

No início fiquei muito renitente, quando houve a mudança de local, achava que Carvalhais era mágico. É um local muito bonito e tenho muito boas recordações, a paisagem, aquela serra é única. Mas acabei por ver que ali no Alentejo também é único, também tem uma paisagem bonita, também tem pessoas bonitas. Em qualquer sítio o Andanças será sempre mágico, disso não tenho dúvidas. Ana Paula
20 Andanças!!
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É crença entre os Andantes mais antigos (para quem não sabe, Andante é o nome dado a todas as pessoas que interagem no Andanças, sejam elas artistas, voluntários ou participantes) que o Andanças é um ser vivo que interage com as pessoas que por lá passam e é ele que escolhe quem por lá permanece, seja a colaborar como artista, voluntário ou apenas como participante e quem nunca mais regressa. 
E como todos os seres vivos o Andanças nasceu, cresceu e neste momento está a entrar na fase adulta.

Todas as fases de crescimento têm as suas características e o Andanças não fugiu à regra.
Nasceu em Évora, fruto do sonho de uns estudantes.

O Paulo Pereira vivia nos Olivais e a certa altura nós convivemos um com o outro em projectos juvenis, aqui na Paróquia dos Olivais. Ele tocava flauta e era músico no grupo de danças e cantares onde eu dançava e cantava. Mais tarde, o grupo acabou, o Paulo entrou para a faculdade e perdemos o contacto um com o outro. Passaram-se uns anos e encontrei o Paulo na rua, nessa altura eu já estava envolvido no mundo das danças. Comentei que tinha de ir à faculdade dele, pois tinha ouvido que lá havia um indivíduo que dava aulas de danças internacionais e tinha curiosidade em ver. Para minha surpresa ele respondeu-me que esse indivíduo era ele. Começámos a encontrar-nos esporadicamente, porque entretanto ele foi para fora  estudar e aí apanhou o bicho das danças. A dada altura ele passou-me a informação de que estava desejoso de organizar um festival e andava à procura de parcerias. Eu por acaso conhecia um fulano, que era o Mário Alves, da associação Etnia, uma cooperativa cultural de Caminha, que também estava ligado às Músicas do Mundo. Apresentei o Paulo ao Mário Alves, eles enturmaram-se e o primeiro festival foi organizado em Évora em parceria entre ele. Quim das Mil e Uma Danças

E deu os primeiros passos na Serra da Fraguinha.

A minha história com o Andanças foi um feliz acaso, que surgiu porque gosto e gostava de dançar.  Andava sempre a chatear o pessoal da minha faculdade para irmos para festas e bailes. Em Lisboa íamos muito às sevilhanas e às festas da faculdade. Um dia nos meus anos, uma colega ofereceu-me um desdobrável com o programa do Andanças desse ano, que foi em 1998. E eu vi aquilo, era lá em cima, foi o segundo ano na Gralheira, no parque de campismo. E eu vi aquilo e não queria acreditar que houvesse uma semana completa onde só se dançava, danças todo o dia e toda a noite. E então marquei férias, ainda consegui alterar as férias para ir nessa semana, no final de Agosto. Meti-me num autocarro para São Pedro do Sul. Quando lá cheguei, estava uma carrinha, uma Toyota Hiace, aquelas de 9 lugares, à espera de pessoal. Entrei na carrinha com mais meia dúzia de pessoas, todos a perguntarmos uns aos outros se sabíamos para onde íamos, e ninguém sabia. Luis Moura 
Já em Carvalhais começou a ganhar consciência da sua importância e foi-se desenvolvendo.

No ano seguinte, eu esperava ansiosamente pelo anúncio do próximo Andanças e nunca mais aparecia, estávamos em Maio. A certa altura fiz uma chamada para a associação e disseram-me que estava um pouco atrasado, tiveram problemas e já não ía ser no mesmo local. Estavam à procura de outro espaço. Eu disse, assim um bocado por acaso, que se precisassem de ajuda podiam contar comigo. Quando finalmente confirmaram que ia haver festival eu assumi que podia ajudar e fui responsável da recolha do lixo no campismo. Parte do tempo andava com um tractor a recolher sacos de lixo, acompanhado por uma equipa. O meu segundo ano já foi como voluntário e como responsável pela recolha do lixo. Luis Moura

Para fazer face ao afluxo cada vez maior de Andantes aumentaram as oficinas e o número de concertos e bailes. O número de voluntários cresceu exponencialmente para fazer face às diversas áreas que foram surgindo com o aumento de público, numa sequência lógica entre oferta e procura.

Lembro-me de andar por lá a brincar com todas as crianças, de dançar as danças colectivas, não gostava muito das danças a pares, ainda. E depois outras actividades, que também tinham. Uma coisa boa do Andanças é a diversidade de actividades. É centrado na música e dança tradicional de vários países, mas depois também tem muitas outras coisas e isso também é fascinante. Lembro-me de um workshop de fabrico de papel a partir da fibra de algodão ou máscaras com elementos da terra, coisas bastante diversificadas. E isso é giro para as crianças, actividades para as várias faixas etárias. Eva Parmenter

Mas a dada altura o jovem adolescente estagnou. Já não podia crescer mais naquele espaço físico, pois não tinha mais espaço por onde crescer. Ao mesmo tempo, a afluência do público começou a diminuir, talvez devido à necessidade de mudança.

Como qualquer pai preocupado com todas as questões relacionadas com o desenvolvimento do filho, a organização do Andanças, a cargo da Associação PédeXumbo, resolveu que era chegada a hora de fazer uma pausa, para reflectir sobre que medidas deveriam ser tomadas para que o Andanças pudesse continuar a evoluir.

Os pilares foram redigidos após uma metodologia, altamente participativa, com várias sessões de recolha de ideias, nas quais eu participei em 10 delas, até participei fora de Lisboa, em sessões de tempestade de ideias para perceber quais eram os conceitos identitários chave do Andanças para garantir que na passagem de um lugar para outro ele não se desencarnava do seu verdadeiro espírito. Houve um trabalho de tentar conectar com o espírito do Andanças, com a identidade Andanças, para garantir que quando fosse para um lugar novo não perdíamos aquilo que nasceu com a participação de toda a gente. Mário Rainha Campos

E foi assim que em 2011, o Andanças celebrou Carvalhais pela última vez e em 2012 optou por um formato mais compacto, de transição, o Andanças24h em Celorico da Beira.
Com a saída de Carvalhais, tornou-se imperativo encontrar uma nova casa onde o Andanças pudesse assentar arraiais, no ano em que atingia a maioridade e a beleza da Barragem de Póvoa e Meadas falou mais alto.

Como todas as mudanças que ocorrem na vida de um ser vivo, há sempre um período de adaptação e o Andanças não fugiu à regra.

O ano de 2013 foi um ano de muitas comparações ao passado, mas não se pode comparar um bebé a um jovem adolescente e 2014 foi prova disso.

Não se podiam fazer milagres, aquilo foi uma crise de adolescência profunda. Imagina o que é, com 17 anos e um tamanho já enorme, o Andanças sair da casa onde vivia habitualmente. Houve ali alguma crise e houve algumas pessoas que se sentiram revoltadas com o calor, com a falta de condições em comparação com o outro lugar. Era inevitável a comparação com Carvalhais. Mário Rainha Campos

Em 2014, o Andanças provou que todo o ser vivo quando é amado desenvolve-se e cresce em qualquer lugar.

A energia que eu sei que há lá, aquela energia participativa, de fazer amigos, de sermos todos um, de construirmos um presente utópico, aqui e agora, vivermos a utopia daquilo que queremos ser e depois levamos dali essas sementes para plantar durante o ano inteiro. No Andanças eu sinto que há isso, as pessoas tentam ser aquilo que gostavam de ser. Estão a treinar durante aqueles dias e levam alguma coisa para o resto do ano. Mário Rainha Campos
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